Sumário
Apresentação
Prelúdio 1 - A insustentável leveza do amor
Prelúdio
2 - Amor e sexualidade
Prelúdio
3 - Amor trago já
Prelúdio 4 -
Ah amor...Há sexos!
Prelúdio 5 - Amor, sublimação do desejo
Prelúdio 6 - A intrusão
da diferença
Prelúdio 7 –
Para sempre é sempre por um triz
Prelúdio 8 - A lua (cheia) dos amantes
Prelúdio 9 - A escrita de uma carta de amor
Prelúdio 10 - O amor é um semblante
Prelúdio 11 - Amuro e asexo
Prelúdio 12
– De que se trata no amor?
Prelúdio 13 - No sexo e no amor, o que se a-posta?
Prelúdio 14 - O amor como a-mais
Prelúdio 15 – Amor só é bom se doer?
Prelúdio 16 – Amor é prosa, sexo é poesia
Membros do Fórum do Campo Lacaniano deMato Grosso do Sul
Leia os textos abaixo...
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APRESENTAÇÃO
O Fórum do Campo Lacaniano do Mato Grosso do Sul sediará nos
dias 13,14,15 e 16 de novembro de 2014 o XV ENCONTRO NACIONAL da Escola de
Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil.
É com entusiasmo que para lá dirigimos nossa atenção, as questões
e trabalhos relativos ao tema deste colóquio - AMOR E SEXOS.
Esperamos que este encontro nos dê a oportunidade de discutir
a importância da subversão promovida por Freud com sua descoberta do
Inconsciente, sempre retomada com cuidado por Lacan, e as consequências no que
diz respeito à Sexualidade, a Pulsão e o Amor.
Quanto à sexualidade, para Freud os sujeitos são, de saída,
bissexuais. Com tal postulado, nos ensina que há Homens e Mulheres bem
demarcados no sentido do estado civil, mas eles não são feitos um para o outro
como reza o discurso religioso, científico e social, porque a pulsão e o desejo,
que estão na base da constituição de todo falante, independem de qualquer
orientação sexual.
Lacan nos diz, em seu Seminário, livro 19, que o princípio do
funcionamento de gênero feminino e masculino é a linguagem, pois "a
linguagem é tal que todo ser falante é ou ele ou ela. Isso existe em todas as
línguas do mundo.” Mas para ele, a identidade sexual, ser "homem ou mulher",
é o resultado de um processo que qualificou de sexuação. Há aí uma ação para
indicar que é um processo de linguagem, não um fato de natureza. Este processo
distribui os sujeitos em duas categorias: - Aqueles que estão totalmente na
função fálica e aqueles que não estão totalmente inscritos nela.
Os primeiros serão chamados Homens, qualquer que seja sua
anatomia, e os segundos, que não estão totalmente inscritos na função fálica,
se chamarão mulheres.
Quanto ao conceito de pulsão, com seu objeto faltoso e sua
força constante pedindo repetitivamente esse mesmo objeto, que não surge
jamais, não se pode educá-la nem acomodá-la aos ideais da sociedade, a uma
educação sexual.
E o amor, o amor no XV Encontro achará com certeza quem o
cante, o analise, não só nas histórias dos costumes ou nos mitos, mas nas
descobertas que a psicanálise soube depositar.
Deixo aqui para sugeri-lo ou motivar, o que está no texto de
1914, "Sobre o narcisismo: uma introdução", no qual Freud diz: "É
preciso amar para não adoecer".
CG da EPFCL-Brasil
Delma Fonseca
Andréa Milagres
Madalena Kfuri
Prelúdio 1 - A insustentável
leveza do amor
Francina Sousa
Prelúdio, significante definido pelo dicionário
Houaiss da língua portuguesa como “ato preliminar, primeiro passo para (alguma
coisa)”, entre outras definições. Trata-se aqui de Ato Preliminar para um
Encontro. Em nossa língua o significante “preliminar” facilmente nos remete ao
ato sexual, e é dispensável elucidar que amor e sexo nem sempre são solidários,
a experiência nos ensina. Permitam-me, pois, uma pequena consideração sobre o
amor, primeiro termo de nosso tema.
No começo, o verbo. Amar, do ponto de vista da
sintaxe da língua portuguesa, é transitivo. Significa que ele necessita de um
complemento, algo que o acompanhe direta ou indiretamente, já que seria carente
de algo por natureza. O escritor intui e adverte: amar é verbo intransitivo. Não
combina com complementos posto que este significante remete à completude. E não
há tal coisa no Amor, ele é tão manco quanto os corações daqueles que toca. O
Amor é intransitivo. Não porque encontre tudo de que necessita em si mesmo
dispensando todo e qualquer acessório, mas porque os complementos não lhe
bastam! Intransitivo, uma vez que não há trânsito entre os amantes, aqueles que
compõem a dissonante canção Amor. Gênio responsável pela comunicação entre os
seres, não um Deus, o Amor não é maiúsculo...
Aspirando à possibilidade de ser todo, o amor faz
com que os amantes acreditem na existência da relação sexual e que dois podem
unir-se em Um. A ficção que chamamos amor aparece justamente para nos proteger
do horror da não complementariedade entre os sexos. Dois serão sempre dois,
apesar do Aristófanes de Platão ter ainda ecos no imaginário ocidental. Aliás,
com o mito de Aristófanes, estamos exatamente no nível que nós, modernos,
interpretamos o amor. Animado por este sentimento cômico, o amante busca algo
para dar ao objeto de amor e é ativo e astucioso nesta interminável busca. Amor
é esta crença de que encontramos no outro, na pessoa amada, algo que nos é
precioso, aquilo que nos falta, um bem do qual queremos gozar e tal bem nos
desperta para o desejo. Só que “o que falta a um não é o que existe, escondido,
no outro. Aí está todo o problema do amor”[1], já
nos diz Lacan nas primeiras páginas do Seminário sobre a Transferência. Caetano
canta o desencontro da bruta flor do querer amoroso já que “onde queres revólver,
sou coqueiro/E onde queres dinheiro, sou paixão/Onde queres descanso, sou
desejo/E onde sou só desejo, queres não.”
Para tornar-se um amante, para ser tocado e animado
pelo amor, uma transformação faz-se necessária. Mais precisamente uma metáfora,
“na medida em que aprendemos a articular a metáfora como substituição”[2]. Um
sujeito deve vir em lugar de outro. Seguindo o Lacan do Seminário 8, onde era o
amado (objeto), deve o amante (sujeito) advir. Lacan ilustra esta operação com
um estranho mito: uma mão que se dirige desejosa em possuir um objeto
inanimado. Deste objeto, milagrosamente, estende-se outra mão, que busca pela
primeira. As mãos não se tocam, permanecem neste espaço eterno (enquanto dura)
tentando encontrar-se.
Recorro ao “nosso” Milan Kundera[3] e sua
obra maior, A Insustentável Leveza do Ser, verdadeira lição sobre o amar na
modernidade, para tentar expressar o milagre inerente à significação do amor.
Este livro conta a história de amor entre Tomas e Tereza. O narrador revela ao
leitor o momento preciso em que Tomas cai de amor por Tereza. Até então, fora
ele um celibatário decidido, que havia encontrado um equilíbrio entre seu
desejo e temor das mulheres naquilo que batiza como “amizade erótica”. Ingênuo,
assim como o Erixímaco do Banquete, acredita que o equilíbrio, a harmonia seria
possível entre os corações. Tomas tem inúmeras amantes, não ama nenhuma delas.
No entanto o homem preparado e convencido a permanecer celibatário trai-se. É
nesta traição que a falta e o desejo se expressam. A crença que o suposto
equilíbrio de estar com todas e nenhuma ao mesmo tempo lhe trazia desmorona no
momento em que é atingido pelo amor, momento em que está diante desta mulher
que mal conhece e que vê pela segunda vez.
O que permite a Tomas sair de sua posição anterior,
o que teria essa mulher de tão especial? Para ser amada por um homem uma mulher
deve oferecer-se como objeto causa de seu desejo, objeto a. Tereza aparece
exatamente neste lugar. Imaginariamente unido a ela, Tomas sente que não
sobreviveria à sua morte, como se fossem parte vital um do outro. Para ele,
Tereza “não era nem amante nem esposa. Era uma criança.” Abandonada. Esta é a
metáfora que representa Tereza em seu inconsciente e que funciona justamente
para que ele, Tomas, metaforize-se em outro, aquele que salva e protege esta
criança:
“Mais um vez ocorreu-lhe que Tereza era uma criança posta numa cesta
untada com resina e abandonada ao sabor da corrente. Como deixar derivar para
as águas impetuosas de um rio a cesta onde se abriga uma criança? Se a filha do
faraó não tivesse retirado das águas a cesta do pequeno Moisés, não teria
havido o Velho Testamento e toda a nossa civilização! No começo de tantos mitos
antigos, existe sempre alguém que salva uma criança abandonada. Se Pólibo não tivesse
recolhido o pequeno Édipo, Sófocles não teria escrito sua mais bela tragédia!
Tomas compreendeu então que as metáforas são perigosas. Não se brinca com as
metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora” (p.16)
Sim. As metáforas são perigosas. O amor nasce de uma simples metáfora...
Prelúdio 2 - Amor e sexualidade
Marisa De Costa Martinez
As
questões relativas ao amor preexistem à psicanálise. É fato que o tema tem
acompanhado as produções literárias, filosóficas e psicanalíticas até os dias
atuais. Como exemplo da filosofia, podemos tomar a indicação platônica[4],
de por volta de 380 a.C., em O Banquete, de que existe uma
universalidade no impulso amoroso a qual devemos nos ater. Um exemplo da
literatura foi utilizado por Freud a fim de destacar a importância do amor,
quando cita Schiller, poeta e filósofo: “são a fome e o amor que movem o mundo”[5]
e de forma semelhante, poderíamos pensar que o amor move, inclusive, a
psicanálise. Logo de saída a clínica psicanalítica tem tomado a questão amorosa
como central, embora não haja um único texto nem freudiano tampouco lacaniano
que seja destinado ao amor. Diferentemente, o tema permeia a obra de ambos.
Lacan, ainda evidencia o tema ao defender que “todo mundo demanda amor.”[6]
O
fato de Freud ter-se ocupado do inconsciente e da sexualidade é conhecimento
presente inclusive no senso comum. Ele não pensava o fenômeno amoroso como
restrito à vida adulta, mas sim, sua implicação na constituição da sexualidade
desde sua infância. A implicação entre sexualidade e amor, entendidos em uma
concepção ampla, faz parte do alerta freudiano para a possibilidade de equívoco
dos psicanalistas ao esquecer que “usamos a palavra ‘sexualidade’ no mesmo
sentido compreensivo que aquele em que a língua alemã usa a palavra lieben
(‘amar’).”[7]
Talvez essa intersecção seja uma característica peculiar da língua alemã, que
nos permite pensar os termos amor e sexo em sobreposição mais do que em outras
línguas, acarretando uma consequência ao texto freudiano. Nesse sentido,
caberia questionar em que medida o campo amoroso englobaria, também, o conceito
de sexualidade, embora saibamos que amor e sexualidade não são sinônimos.
Desde
o início da psicanálise as pessoas chegavam à clínica para falar que não
conseguiam amar na vida adulta e associavam essa impossibilidade ao amor
infantil objetal, demandas estas que Freud denominou de sexuais. As questões
relativas ao amor e ao sexos continuam deveras presente em nossa clínica. Nesse
sentido podemos tomar a questão de Serge André para iniciar uma discussão em
nosso próximo Encontro: “qual é o lugar, a função e a natureza do amor na
relação claudicante entre sujeito e sexualidade?”[8]
Lacan
insiste sobre a relação do amor e da sexualidade quando propõe que se há algo
possível na relação dos sujeitos é justamente o amor, o qual surgiria como
suplência da falta primordial e estruturante desses: “o que vem em suplência à
relação sexual [inexistente], é precisamente o amor”[9].
Em seguida o autor enuncia novamente o amor enquanto uma possibilidade ao
sujeito que vem suprir a falta da relação sexual: “[...] para que eles [seres
faltantes] se arranjem, para que eles se acomodem para que, mancos mancando,
eles cheguem, mesmo assim, a dar uma sombra de vidinha a esse sentimento dito
amor”.
No
entanto há uma dimensão de necessidade no amor em detrimento de um
distanciamento absoluto dos homens. A clínica evidencia que, embora a
satisfação no amor não exista, nem por isso, os sujeitos não continuem a
tentar. Há uma atribuição de pertinência no amor ao assumir para a humanidade
uma espécie de via para a felicidade, apesar de reiteradas considerações
freudianas que apontam os limites da felicidade na suposta completude amorosa.
Frente ao real da inexistência da relação sexual os homens poderiam se excluir.
Diferentemente, as análises caminham para um laço que Lacan chamou de “um novo
amor” enquanto efeito de final de análise. Assim, a leitura do amor como
suplência da não relação sexual aponta para uma espécie de ilusão necessária,
uma invenção. E sim, estamos de acordo que a invenção do “amor nos torna
patéticos”, conforme canta Rita Lee – conhecida como a rainha do rock
brasileiro – em sua música intitulada “amor e sexo”.
Por
fim, é assim, “patéticos” e cheios de amor para dar, que nós – “novos” do
Pantanal – também um local “novo”, nos movemos “manquejando” para receber a
todos no XV Encontro Nacional de nossa Escola para falar de Amor e Sexos.
Prelúdio 3 - Amor trago já
Isloany
Machado
Convocada
a dizer sobre o amor, travei. Sim, escrevo. Mas sobre o amor? Não! Entretanto,
não havia escapatória. Tinha que dizer, como psicanalista, do amor. Os dias
foram se arrastando e as palavras fugiam. E de lá do fundo do meu falasser brotavam chavões: “O amor é
fogo que arde sem se ver”. O que é o amor, o que é o amor? “É só o amor, é só o
amor”. Às voltas com a convocação, espremia, espremia, e nada.
Tenho
o costume de andar olhando para as coisas do chão. Até algum tempo atrás achava
um jeito feio de andar, mas depois de Manoel de Barros[10],
que dá tanto valor para as coisas desimportantes – coisas de formigas, de
pedras, de rãs – achei que não tinha problema esse meu olho torto. É no chão
que acho as coisas mais fundamentais. E eis que um dia, chutando pedrinhas no
centro de Campo Grande, encontrei um bilhetinho roto que dizia: “AMOR TRAGO
JÁ”. Passei reto. Fiquei com vergonha de apanhar do chão algo que estava tão
pisoteado. As palavras ficaram mordendo meu calcanhar, então na volta peguei,
com um meio sorriso pra disfarçar o constrangimento. Tentei não fazer de forma
furtiva para que as pessoas não pensassem que encontrara algo de valor. Era só
um papel muito roto e pisoteado. Corri para o consultório a fim de ler o que
dizia. Transcrevo:
“AMOR TRAGO JÁ
**ATENÇÃO** Não Sofra mais...Chega de sofrer
e venha ser feliz...Eu posso e trago o seu GRANDE AMOR de volta GAMADO,
AMARRADO E ACORRENTADO para sempre, em apenas 7 dias com garantia e rapidez,
não importa a distância que for, esteja ELE ou ELA aonde estiver. Tenha quem
você AMA aos seus pés para sempre. NÃO SOFRA MAIS! Há solução p/ todos os seus
problemas e outros mais. Faço e desfaço qualquer tipo de trabalho Espiritual!!
EU GARANTO O QUE EU FAÇO!!!
TRABALHOS RÁPIDOS E
GARANTIDOS
Sigilo Absoluto”
Reli
umas duas vezes e fiquei sem entender por que as pessoas haviam pisoteado
aquele papel, sem lhe dar importância. Fiquei comovida com aquelas palavras.
Talvez não com as palavras em si, pelo que dizem, mas porque o amor estava
misturado a todas as coisas desimportantes do chão. Quem teria deixado cair o
papel? Algum desacreditado do amor? Ou talvez alguém que nunca o tenha
conhecido. Reli o papel. Havia ali uma promessa de trazer o amor, o GRANDE AMOR
de volta. Mais que uma promessa, havia uma garantia. Me senti descrente, uma
mulher de pouca fé: Ora, o amor nada mais é do que amar ser amado, é demandar
amor.
Olhei
para o divã ao lado e fiquei lembrando dos ditos amorosos e desamorosos –
principalmente estes – que ouvira naquele mesmo dia, permeados pelo silêncio
das minhas intervenções. Não havia palavra que pudesse dar garantias de trazer
o amor no laço, AMARRADO, GAMADO, ACORRENTADO. Encafifada com a promessa do
bilhete, pensei: por que não? Por que o amor não se deixa amarrar, acorrentar,
para sempre? Depois de alguns minutos a sentir o gosto dessas duas palavras,
percebi que o amor não se pode acorrentar porque está como elo da corrente; não
se deixa amarrar, porque faz laço; não se permite enodar[11],
porque o amor é o que faz nó.
Antes
de uma grande declaração de amor, há um nó na língua. Mas quando se perde um
amor, resta um nó na garganta. Às vezes este tipo de nó é tão apertado que a
vida se vai. Lenine[12]
diz: “às vezes parece até que a gente deu um nó”, mas só parece, pois “hoje eu
quero sair só”, conta o restante da letra (1+1=1). O amor dá nó no ser: “levei
um nó”. Mas o nó que o amor dá não é cego, caso contrário o bilhete roto teria
que dizer: “Eu posso e trago o seu GRANDE AMOR de volta GAMADO, AMARRADO
E ACORRENTADO para sempre, pois trabalho com um nó cego”. Ora, os termos
precisam ser ditos claramente.
Acontece
que há outro nó. O nó borromeano, que Lacan utiliza em sua teoria para falar,
dentre outras coisas, de algo da ordem do impossível, de que não há completude.
Nenhum nó é cego, “desenodável”. Foi aí
que minha ficha caiu e pude entender minha descrença. Esse nó tem três elos
iguais em termos de consistência, pois desfeito um, qualquer um, o nó se
desfaz. Misturei Lacan com a cigana do bilhete, minha cabeça deu nó. Mas
entendi que o silêncio dos meus ditos diante do desamor que ouço todos os dias
na clínica, tem a ver com a face real desse nó, com o impossível da relação
sexual. Então, pelo lado avesso, pensei: se o amor é narcísico, pois não foge
das identificações e dos espelhamentos, é, portanto, imaginário. Mas se o amor
faz laço, enlaça o sujeito com seu desejo, é simbólico.
Neste
momento, deixei cair o bilhete e pensei: “Dona cigana, sua desatadora de nós,
não acorrente o amor, deixe-o livre para fazer nós”. Reli pela última vez o bilhete
e reformulei seu dito:
“AMOR TRAGO NÃO
**ATENÇÃO** Pode sofrer por amor...Continue a sofrer, pois
amar não é o mesmo que ser feliz...Eu não posso e não trago o seu GRANDE
AMOR de volta GAMADO, AMARRADO E ACORRENTADO para sempre, porque não se faz
nó cego no amor, porque não se pode acorrentar o amor, pois ele é a corrente.
No amor não há garantias, quanto menos em apenas 7 dias. Não importa a
distância que for, esteja ELE ou ELA aonde estiver, o ‘amor é bicho instruído’[13].
Tenha quem você AMA aos seus pés para sempre, no espelho. SOFRA, porque ‘essa
ferida, meu bem, às vezes não sara nunca, às vezes sara amanhã’. Não há
resposta pronta p/ nenhum de seus problemas e de ninguém mais.
EU NÃO GARANTO NADA!!!
TRABALHOS LONGOS E
SEM GARANTIAS
Sigilo Absoluto”
Venham
atar os nós do amor em Campo Grande nos dias 13, 14, 15 e 16 de novembro! Mas
eu não garanto nada!!!
Prelúdio 4 - Ah amor...Há sexos!
Silvia Amoedo
Para tratar o tema “Amor e Sexos”, busco, na
subversão da escrita poética de Clarice Lispector, fragmentos do romance Uma
aprendizagem ou O livro dos prazeres. Trata-se de um encontro amoroso entre
Lóri e Ulisses.
Lóri busca, na imagem de Ulisses, seus próprios
ecos, seu modo de ser, de existir e de amar. Busca encontrar no Outro, outro
sexo, sua posição feminina. Faz semblante de mulher, enfeita o corpo para o
encontro: põe sobre si mesma alguém outro – pinta demais os olhos, a boca,
mascara o rosto com pó –, exatamente o que ela não é, revelando-se e
ocultando-se, para ser desejada ao mesmo tempo que amada.
O fato de o ser humano falar implica, desde já, um
corpo que clama, corpo submetido à linguagem, e uma inconsequente
desnaturalização chamada desejo - uma posição excêntrica: é sempre outro -, o
que impede uma aprendizagem. Não há, portanto, caminhos ou determinações que
definam o que é ser homem e o que é ser mulher. O que significa dizer que o
sujeito, por nascer com o significante, já nasce dividido.
Nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”,
Freud sistematizou o conceito de pulsão, diferenciando-o do de instinto. O
destino da pulsão é incerto. Seu objeto, aquilo em que a pulsão pode alcançar
seu objetivo de satisfação, é variável. No entanto, a pulsão apreende um
objeto, porém não se satisfaz, deslocando-se de um objeto para outro. Dessa
forma, ser homem ou ser mulher não pode ser definido pelo biológico, mas pela
linguagem, numa relação entre seres falantes, definida pela posição do sujeito
em relação ao significante do desejo. Nada mais que significantes.
Há, portanto, na escolha sexual, uma marca que
porta o desconhecimento e a alienação inerentes à própria história do ser
falante.
A linguagem dá o sentido humano às coisas. E Lóri
aprende a se aproximar das coisas sem ligá-las a sua função e, assim, entrevê
como seriam as coisas e as pessoas antes que lhes fosse dado o sentido humano.
Já sabe um pouco de si, mas isso não responde ao que ela é como mulher.
Ao ver-se de corpo inteiro no espelho, Lóri pensa
que ser um corpo único é também proteção, pois um corpo único lhe dava a
impressão de que não fora cortada de sua condição essencial como mulher, qual
seja a de ser “não toda”.
Para encontrar os mistérios do corpo falante,
Lóri adentra o mar, que a aceita, apesar da resistência, tal como no amor, em
que a oposição pode ser um pedido secreto. Para Lóri, o amor de corpo é
estranho e cego, e cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia do outro.
Lóri se des-cobre num estado de graça indizível e
incomunicável como o dos místicos e, nesse momento, num gozo mais-além,
encontra o impossível de si mesma: [...] “Eu sou tua e tu és meu, e nós é um”[14].
Mas, na questão do amor, o encontro é sempre falho: não há coincidência entre o
que o amado possui e o que falta ao amante. O que se ama é o objeto, associado
à função daquilo que é amado, o ser do objeto – aquilo que escapa à linguagem
–, e não um sujeito. Segundo Lacan, “o amor é impotente, ainda que seja
recíproco, porque ele ignora que é apenas o desejo de ser Um o que nos conduz
ao impossível de estabelecer a relação dos [...] sexos”[15].
Na posição de habitar a linguagem, há “o homem
e a mulher”[16].
É por esse a que Lacan funda o estatuto d`a mulher
no que ela é “não toda”. No entanto, há mulheres fálicas e há homens cuja
função fálica não define a posição homem ou mulher. Como fazer amor?
“Fazer amor, como o nome indica, é poesia”[17].
Prelúdio 5 - Amor, sublimação do desejo
Alba Abreu
Não haveria o amor se não houvesse cultura. Lacan afirma que o “amor está
feito da idealização do desejo” e “o desejo é coisa mercantil”[18];
isso equivale dizer que, inventado pelo mercado, o chamamos amor era até então
desconhecido pela Antiguidade pagã, para a Idade Média e o Oriente, embora os
cruzados tenham tentado implantar essa necessidade amorosa - dita cristã.
Sabemos que o amor como conhecemos e difundimos na literatura foi uma criação
dos trovadores provençais como já apreciei anteriormente[19].
O desejo intervém no amor e é seu pivô essencial: “no caminho de meu desejo,
o Outro quer minha angústia” e, portanto, já que o desejo não diz respeito ao
objeto amado, Lacan assegura nesse seminário que “o amor é a sublimação do
desejo” no sentido em que colocar-se em posição de desejante é também
assentar-se na posição de falta e buscar a completude. Consequentemente,
afiança que “o amor (sublimação) é o que permite ao gozo condescender ao
desejo” certamente porque se trata de um modo de esconder o que causa o desejo,
evitando a angústia.
Dois filmes retratam a tese lacaniana sobre o amor, embora de modos
distintos:
AMOR: sobre o casal Anne e George, cúmplices, delicados, desfrutando a
vida e o amor mútuo, lentamente o espectador é convidado a descortinar o
Thanatos de seu complemento Eros. Anne e George que não se enxergam separados,
a partir da estranheza da doença, a angústia assola e o casal se isola do mundo
num êxtase de dor e sussurros ainda ditos como que para preservar o espaço do
psíquico.
O AMOR É UM CRIME PERFEITO: numa atmosfera fria e futurista encontramos
o equilíbrio perfeito entre um cenário espetacular e a estranheza perversa do
seu protagonista. Jogos sedução e dominação que angustiam o
espectador, que numa trama bem urdida, apesar de causar um sentimento de
ambiente acolhedor aproxima-se gradualmente da bestialidade e da loucura. O
filme aborda, sem escrúpulos, temas rejeitados e varridos para baixo do tapete
da violência intrafamiliar. A história de amor inesperado que se desenvolve
gradualmente entreAmalric e Maïwenn é
incrivelmente hipnotizante, porque, como quase toda a história de amor está
fadada ao fracasso.
O que o Outro quer de mim? O desejo do Outro é esse nome que Lacan usa
para o excesso econômico – aonde o Unheimlich vem representar o fenômeno da
angústia (estranho familiar, diria Freud). Isso que o analista aprende nos
livros, nas leituras e nos filmes denota esse lugar de desassossego da posição
analítica e por isso mesmo fazemos encontros para cada vez mais nos
aproximarmos da condição humana e perceber o sentido de nossa prática.
Prelúdio
6 - A intrusão da diferença
Luis
Izcovitch
Será que a psicanálise pode nos dizer algo de novo sobre o amor e o sexo
que não seja apenas dar-lhe a forma de um conceito? A reposta é sim, mas é
preciso justificá-la.
Há certamente o que a teoria analítica nos ensina sobre o inconsciente
e, portanto, sobre as relações do sujeito com o amor e o sexo. Uma tese pode
ser depreendida, ela é constante de Freud a Lacan e poderia ser resumida assim:
o inconsciente, isso nos impulsiona para o mesmo. Do ponto de vista histórico,
houve diferentes formas: a philia na Grécia, o amor
cortês como obstáculo regrado no que tange ao impossível da relação sexual, até
mesmo a ideia de Freud do amor sexual como a base da nosso civilização. Lacan
chega a forjar uma ética, a do Horsexe , Extrassexo, isto é,
quando l’âme âme l’âme, a alma almeja a alma. Em outros termos,
amamos no outro o que é semelhante à nossa alma, ou seja, nós mesmos.
O mesmo acontece com o sexo: a foraclusão da diferença sexual no
inconsciente impulsiona o sujeito para o encontro do mesmo. Quer ele seja homo
ou hetero, não há diferença quanto a isso. Pois é bem possível estar no
registro hetero e recusar a alteridade no gozo. Do mesmo modo, como Lacan o
formulava, pode-se ser uma mulher e estar “âmoureuse”, almorosa, o que
ele escrevia com acento circunflexo sobre o a, para mostrar que ela ama a alma
do outro, o que a torna hommosexuelle[20], humanossexual.
É o empuxo-ao-homem na histeria, o que significa que ela ama, mas, rejeitando a
diferença sexual, ela faz objeção ao ser Outro do homem.
Então, se afirmamos que a psicanálise pode dizer algo de novo, é no
sentido em que uma experiência de análise não se limita a constatar a relação
do sujeito com o inconsciente, mas visa a uma mudança. É certo que
se opera uma mudança como efeito da radicalização da falta. Se o amor é dar o
que não se tem, mais ela o coloca na posição de amar, portanto, na de induzir um
novo nó entre o amor e o sexo.
Contudo, mais fundamentalmente ainda, é preciso explorar uma das teses
conclusivas do seminário Encore, (Mais, ainda). Lacan se refere ao
reconhecimento entre dois seres, portanto, ao modo como dois seres se escolhem:
“Esse reconhecimento não é outra cosia senão a maneira pela qual a relação dita
sexual – tornada aí relação de sujeito a sujeito, sujeito no que ele é apenas
efeito do saber inconsciente – para de não se escrever.”[21] Com efeito, se
Lacan se serve do verbo devenir (tornar-se, vir a ser), é para
mostrar que entre a constatação da relação sexual como impossível e o que
“cessa de não”, ou seja, a contingência, há uma travessia. A travessia não é
apenas a constatação, é aquilo que abre para uma relação “do ser com o ser”, ou
seja, uma relação que implica a alteridade do outro.
É este o efeito de uma
experiência, a de uma análise, única experiência capaz de produzir a passagem
do mesmo à diferença. Eis o que há de inédito no fim, inédito no nível dos
afetos e que não supõe necessariamente um novo parceiro.
Neste sentido, uma análise é uma experiência cuja mola é o amor, mas com
uma finalidade precisa: retirar o sujeito do mesmo. Façamos os votos de que as
Jornadas de Campo Grande no Brasil possam contribuir para demonstrar o que pode
mudar para um sujeito, quando ele coloca o amor e o sexo no em-jogo da
transferência.
Tradução: Vera Pollo
Prelúdio 7 – Para sempre é sempre por um triz
Ana Laura Prates Pacheco
Houve
uma mesa de trabalho em Hímeros – Colóquio de Arte e
Psicanálise, ocorrido em 2013 no Rio de Janeiro, que tratava sobre a
relação entre o ato e a contingência. Os trabalhos eram de Gabriel
Lombardi e Raul Pacheco. Gabriel usou uma expressão em castelhano
para dizer de algo que ocorre (ou não ocorre) por pouco, e na hora me veio a
tradução – não literal – “por um triz”. Raul terminava seu trabalho com uma
citação da bela canção de Chico: “Basta um dia”: “Pra mim, basta um dia, um
meio dia, e eu faço desatar o nó da minha fantasia”.
Há
uma modulação muito interessante entre “basta um dia” e “por um triz” que
permite transmitir a aposta de Lacan nas modalidades incluídas na sexuação:
necessário, possível, contingente e impossível. Será no Seminário
21 Les non-dupes errent que Lacan ousará escrever que “o nodal
é o modal”, articulando o nó borromeu aos modos de gozo que já havia localizado
nas fórmulas da sexuação, no ano anterior. Ele propõe que há dois tipos de nó,
estruturalmente distintos: o nó olímpico e o nó borromeu. O nó olímpico é
ordinal, pois uma das esferas – a do meio – tem prevalência sobre as outras
duas. Esse tipo de nó é aquele que tenta escrever a relação sexual. Dependendo
do registro que ocupará a função prevalente – o Simbólico, o Imaginário ou o
Real –, teremos uma tipologia de modos de amor que tentam escrever a relação: o
amor a Deus, o amor Cortês ou o amor masoquista. Vejam que curioso: garantir o
impossível, como faz o amor cortês, é tanta impostura quanto garantir o
possível, ou pior, torna-lo necessário. Pois bem, ao contrário do nó olímpico,
o nó bô é cardinal – não há ordem, nem prevalência de nenhum dos registros
sobre o outro. É essa a característica que permite a Lacan escrever “não há
relação sexual” a parti desse nó. Pois como afirma Lacan, o 3 é Real, pois o 1
não atinge o 2. O 2 é ímpar! Belo modo de dizer que relação sexual não há.
Em
seu texto: “Lógica e poética: por um Triz”, Ana Paula Gianesi também fala do
triz, a partir do espetáculo de dança Triz do grupo Corpo.
No site do grupo encontramos que a mitologia de Dâmocles suspensa
por um tênue fio de crina de cavalo serviu de inspiração para Triz, palavra de
sonoridade onomatopeica, que tem nos vocábulos gregos triks/trikós (pelo,
cabelo) sua mais provável origem etimológica, simbolizada pela expressão por um
triz (por um fio)”. Ana Paula comenta: “O um não encontra o dois. Duplos modos
de dançar uma mesma trilha com seus tantos desdobramentos possíveis. Eles vão
para traz do palco e por um véu de traços os vemos contando os passos 1, 2, 3,
4, 5, voltam ao palco, e a conta... esta não se fechou. Parecem estar mesmo em
outra cena, aquela que abre a suspensão, a surpresa, a descontinuidade... Sim,
eles parecem justamente forçar o que não se conta... Dois corpos dançam e não
distinguimos suas bordas. Não fazem dois, tampouco fazem um. O que passam? Não
há relação sexual!
Mas
ocorre que, às vezes, algo se escreve, ou melhor, “alguma coisa cessa de não se
escrever, para alguns casos raros e privilegiados” (Sem. 21): Nesses
casos, para não fazer amor olímpico (lê-se, edípico), ou pior, transforma-lo em
uma olimpíada, é preciso lembrar o poeta Chico, novamente: “Diz quantos
desastres tem na minha mão, diz se é perigoso a gente ser feliz. Sim, me leva
para sempre, Beatriz, me ensina a não andar com os pés no chão. Para sempre é
sempre por um triz”.
Prelúdio 8 - A lua (cheia) dos amantes
Elynes Barros Lima
“Não há ó gente, ó não, luar como esse do sertão”
Nesse clima de dia dos namorados, a lua nos serve de inspiração, e de
todas as suas fases, é quando ela se apresenta cheia, em sua esfericidade e
completude que suspiram os amantes.
Lacan diz no Seminário VIII, A transferência[22] que
a esfera é o que dá mais prazer ao nervo óptico. Sua forma conforme, completa,
apresenta-se esteticamente bela ao olhar. Diz isso ao comentar o mito grego de
Aristófanes, que entre todos os convidados do Banquete, é aquele que nos diz as
melhores coisas sobre o amor, porque fala do amor como falamos dele. Conta-nos
então Aristófanes[23] que a humanidade
era composta de seres esféricos e que estes são divididos pela fúria e castigo
dos deuses, pois com toda sua potência esférica, queriam escalar o céu!
Apartados de suas metades seguem buscando aquela que lhes completaria. Quando
se encontravam, abraçavam-se uma a outra na tentativa de confundirem-se e
tornarem-se um único ser novamente, porém morriam de fome, pois não queriam
fazer nada separadamente. Os que não se encontravam, padeciam um ao lado do
outro sem poder novamente fundir-se. Com dó, os deuses fazem uma operação para
que seus órgãos genitais fiquem na frente dos corpos e assim possam
encaixar-se, e do encontro, gerar filhos. Para Aristófanes, essa foi a saída de
Eros para aliviar as dores da natureza humana.
O trágico que mistura sexo e amor, e o cômico das esferas, que apresentam-se,
segundo Lacan, na forma de uma imagem “clownesca” permeiam as histórias de
amor, de antigamente e de hoje!
Essa conversa sobre esferas e metades, sobre sujeitos divididos, amor e
sexo, me fez lembrar o mais novo livro de Valter Hugo Mãe, A desumanização[24]. O livro de Valter é de
uma sensibilidade tocante. A história se passa num lugar árido, como é o sertão
do Nordeste, porém nesse caso trata-se do deserto de gelo, a Islândia. O livro
conta a história da travessia de Halla, de sua adolescência, e de todos os
questionamentos próprios dessa fase e das saídas possíveis para o mal que lhe
atravessou.
Halla e Sigridur eram irmãs gêmeas. Halla queria ser professora.
Sigridur queria ser longe. E foi-se. Morreu ainda criança.
Com a morte da irmã, Halla se dividiu, e “meio morta”, passou a viver.
Aos poucos a ideia de fugir, de sair da Islândia, foi tomando conta de seus
pensamentos; dizia que foi a irmã que lhe ensinou a querer ser longe. Sua mãe
retrucava: “se fugires, mato-te.(...) O único longe para ti, há de ser a morte.
Perto de tua irmã.” – onde possivelmente as duas seriam uma novamente,
completas: a morta e a meia morta.
Um dia confessa a Einar: “...a minha mãe corta-se e odeia-se. Odeia-me
também. Como não me multiplico, sou uma metade insuportável que prefere não
reconhecer”. A partir das intimidades das palavras e dos corpos, Halla
entrega-se a Einar. Esperava que o amor, quando acontecesse, tiraria o nojo que
sentia, considerava ela. Achava que o amor podia curar seu mal, sua dor.
É verdade que entregar-se a esse amor lhe deu mais consistência. Um
compartilhava do sofrimento do outro. Einar a amava, porém ela, não sabia se o
amava; e fazia planos de fugir e ele prometia fugir com ela.
A morta e a meia morta, gêmeas, imaginariamente se completavam. Halla e
Einar, em seus sofrimentos, simbolicamente faziam laço. Ele a amava. Ela, no
final do romance diz que o amava também e que não levava dúvidas de que era
amada. Porém, a essa altura, Halla já tinha escolhido viver; e aceitar esse
amor talvez fosse aceitar ser meio morta. Dividida será para sempre, em sua
condição humana. Meio morta, não necessariamente. E foge atravessando o gelo, a
frieza árida.
Eros, que deseja a busca da totalidade, impulsiona os homens a
prosseguirem cheios de esperanças futuras! Tendo Tanatos a espreita. Porém, o
fato dos seres humanos terem seus órgãos genitais para frente e consentirem na
comédia dos sexos, não os faz completos, redondos, plenos; porque sendo seres
de linguagem, o desencontro já está dado, de saída. No Seminário XX, Encore[25], lemos que o amor visa o
ser, aquilo que na linguagem é mais evanescente e por isso só se apresenta como
surpresa. O encontro é contingente. São instantes, momentos.
No amor somos todos errantes, assim como Halla. Cada um atravessando
seu deserto de gelo ou de areia à espera de um acontecimento, do “feliz acaso”
(bom-heure)[26].
Quem sabe o luar do Pantanal, possa iluminar as questões sobre o amor e
sexos. Quem sabe em Campo Grande, nesse lugar de natureza exuberante, com um
lugar chamado Bonito, possamos falar um pouco mais, Encore, do
amor!
Nos encontramos lá!
Prelúdio 9 - A escrita de uma carta de
amor
Ingrid
Ventura
No começo era o amor, como nos diz Lacan no Seminário A
transferência[27]. Essa afirmação
transmite que o analista serve-se de Eros para que a experiência analítica seja
possível.
Esta relação é bem ilustrada por Lacan quando retoma O Banquete de
Platão. Nesse diálogo, Alcibíades acredita que Sócrates detém um saber sobre o
enigma do amor e do seu desejo, situando-o como o detentor do agalma,
objeto indefinível e precioso. No entanto, Sócrates se recusa a mostrar a
metáfora do amor, afirmando que nada sabe, pois a sua essência é o vazio.
Alguns anos depois, no Seminário O saber do psicanalista,
que teve as três primeiras aulas traduzidas e lançadas pela Éditions Seuil sob
o título Je parle aux murs (Entretiens de la Chapelle de
Sainte-Anne) e pela Jorge Zahar Editor como Estou falando com
as paredes: conversas na Capela de Sainte-Anne[28] - tradução que
despreza a importância do significante mur no Seminário -
Lacan abordou o saber, especialmente o saber do psicanalista, em sua relação
com a verdade e o gozo, situando a verdade como o não saber.
Nessas palestras, Lacan coloca em discussão a incompreensão de seu ensino
e se a sua fala estaria endereçada aos muros, interrogando a sua
repercussão. Não por acaso se vale do significante mur, o qual é
homófono a alguns outros dos quais lança mão para construir e transmitir o que
propunha. Traz-nos o muro como aquilo que comportaria a própria linguagem.
Com tal formulação, acrescenta que no muro temos a presença dos
discursos, fazendo referência aos quatro termos, S1 (significante-mestre),
S2 (saber), $ (sujeito barrado) e a (objeto a), situando
o sujeito como suposto a partir do significante como senhor do jogo, o que,
como vimos acima, está em jogo em uma análise. E para além desse muro, sustenta
Lacan, haveria a possibilidade de construir um sentido.
E ainda, ressalta que o muro (mur) pode tornar-se um muroir,
neologismo construído com os significantes mur (muro) e miroir (espelho). Nessa
construção, recorre a um poema de Antoine Tudal, que mencionou em seu Função
e campo da fala e da linguagem[29]:
Entre o homem e a mulher
Há o amor.
Entre o homem e o amor
Há um mundo.
Entre o homem e o mundo
Há um muro.
A
partir de tal poema, articula que o amor existente entre o homem e a mulher
deriva da “atração”, como algo que aparentemente “une”. Por sua vez, o mundo
entre o homem e o amor remete a uma “flutuação”, como algo que “desestabiliza”
ou “afasta”. A referência ao muro que está entre o homem e o mundo traz a ideia
do “entre”, de uma “interposição”.
Retoma o amor que está entre o homem e a mulher e o situa em um tubo que
revira-se sobre ele mesmo, fazendo referência as figuras topológicas da garrafa
de Klein e da banda de Moebius, de modo a situar o homem do lado direito desse
tubo e a mulher do lado esquerdo. A partir desse ponto, prossegue sua
formulação de modo a articular que o mundo que há entre o homem e o amor seria
o próprio mundo no sentido bíblico. Em seguida, recupera o muro existente entre
o homem e o mundo como o reviramento na junção entre a verdade e o saber, o
situando no lugar da castração, levando o saber a manter o campo da verdade
como inalterado.
E, supreendentemente, empreende uma relação entre amor (amour) e
muro (mur). E diz: “que não se possa falar de amor,
portanto, mas que se possa escrever sobre ele”[30], o que denota uma
impossibilidade e uma inacessibilidade. Assim, nessa tentativa de escrita do
amor, produz-se a carta de amor (lettre d’amour). Como já disse no Seminário
sobreA carta roubada[31], esta sempre chega ao
seu destino: felizmente, chega tarde demais; raras vezes chega a tempo. Assim,
parece-nos que para além do amor na relação entre o homem e a mulher, temos a
carta/letra de amor, ou seja, para além da própria castração e do gozo fálico,
o que toca o Outro gozo, o Heteros.
A articulação da possibilidade de escrita de uma carta/letra de amor ao
final de uma análise, a partir da transposição do muro,
considera também a sua função de reverberação. Esta interessante articulação de
Lacan nos remete ao estatuto do dito e do dizer em uma lógica onde o amor, para
além de sua suplência à inexistência da relação sexual, comparece como uma possibilidade
de travessia do muro de linguagem.
Prelúdio 10 - O amor é um semblante
Rainer Melo
Minha contribuição visa pensar o amor como um
semblante. O amor é um semblante que se constitui como o verdadeiro laço
social. A mitologia sobre Eros trata o tema do amor como uma ficção de que se
perdeu uma metade e se vive a procurar esta metade para fazer um
todo. Freud (1929/30) afirma que o “ser humano” busca amar e ser
amado na esperança de encontrar a felicidade. E que a perda do amor, para a
mulher, ou do objeto de amor, para o homem, constitui uma das fontes de
infelicidade e desemparo. Já para Lacan (1962/63) amar é dar o que não se tem.
E continua: as mulheres ensinam sobre esta questão na demanda ao parceiro para
se declararem em palavras o seu amor por elas. Para amar é preciso falar e é
através da fala que se depara com a falta-a-ser. Lacan designa que se trata da
forma que o neurótico encontra de fazer amor ou de fazer toda sorte de coisas
que se parece com amor. Se Lacan parece hesitar em dar a essa relação que o
sujeito pode ter com o objeto de fantasma o nome de amor, é porque nela o que
se constitui é muito mais uma forma de gozo do que propriamente uma relação de
amor. O fantasma é essa tentativa de gozar com o corpo do Outro, ou seja, desta
parte perdida de si mesmo, o objeto a. Não há relação com o Outro,
o gozo só tem relação consigo mesmo.
O amor, ao contrário, se dirige ao Outro. Há o falo
(1958), o significante universal do gozo, que pode se escrever e não há outro
significante do Outro gozo, essa parte perdida a que o amor vem fazer
semblante. O amor vem aí, tal como o sintoma, para fazer suplência, para fazer
metáfora, para substituir uma insatisfação. O sintoma vem suprir a falta, que é
estrutural, na tentativa de fazer existir a relação sexual que não existe. Não
podemos substituir, efetivamente, o significante que falta, o significante
feminino, que não existe, o significante d´A/ Mulher.
As histórias de amor são sempre histórias de
desencontros. Os desencontros se sustentam na esperança de um encontro com
Outro, que seria todo, lançando o sujeito no registro da impossibilidade que
resulta da tentativa de fazer com que a relação sexual exista. “O que vem em
suplência à relação sexual é precisamente o amor”. (LACAN, J. 1972/73: 62). O
amor vem fazer suplência à impossibilidade da relação sexual na tentativa de
fazê-la existir. Lacan (1958) observa que na mulher a prevalência do objeto de
amor é maior em relação ao desejo, enquanto no homem há uma divergência entre o
objeto de amor e de desejo. A não relação sexual pressupõe que há um
desencontro entre os sexos e que se torna impossível dizê-lo porque há um furo
na linguagem. Entretanto, à medida que uma análise avança ela opera uma
mudança, naquilo que revestia de amor, o encontro com o parceiro. A análise
muda às condições de amor. E uma mulher, por exemplo, se está pronta à relação
com um homem, pode desde então não se acomodar mais no mesmo tipo de saber, de
sintoma, que produzia, ela pode querer outra coisa, pois o analista é aquele
que, ao colocar o objeto ano lugar do semblante, está na posição
mais conveniente para fazer o que é justo, interrogar como saber o que é da
verdade. (LACAN. 1972/73: 129)
Referência Bibliográfica
FREUD, S. O Mal Estar na Civilização (1930 [1929]). In: Obras Completas.
Rio de Janeiro. Imago Editora. 1980
LACAN, J. A Significação do Falo (1958). In: Escritos. Rio de
Janeiro> Jorge Zahar Editor. 1958.
LACAN, J. Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina
(1960). In: Escritos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor. 1998.
LACAN, J. O seminário, livro 20, Mais ainda (1972/73). Rio de Janeiro.
Jorge Zahar Editor. 1985.
Prelúdio 11 - Amuro e asexo
Jairo Gerbase
O amor é amuro. L´amour c’est l´amur.
O amuro são os sinais determinantes dos caracteres sexuais secundários
do corpo. Somos levados a pensar que o gozo do corpo depende dos caracteres
sexuais secundários. A hipótese da puberdade e da pulsão genital se sustenta no
fato de que os caracteres sexuais secundários fazem do gozo do corpo um gozo
sexuado, mas o gozo do falaser é o gozo do corpo como assexuado. O gozo sexual
é assexuado por ser marcado pela impossibilidade de estabelecer o Um da relação
sexual. O amor, Eros, é união, intenção de, de dois fazer Um, ideal proposto há
muito tempo por um poeta grego cômico, Aristófanes. Aliás, ele chegou atrasado
ao Banquete por estar encenando sua peça “As nuvens”.
O amor está na contramão da experiência psicanalítica.
Em psicanálise não se trata do amor, mas do gozo que faz Um, porque
Há-Um. Esse Um, S1, é o significante; detrás dele se esconde o gozo.
Gozar do corpo de outra pessoa, não toca na questão do que faz Um, na questão
da identificação. Então, temos estes dois conceitos concorrentes na experiência
psicanalítica: o amor e a identificação.
Vale lembrar que existe uma tradição na psicanálise que diz que a
experiência depende inicialmente de uma “falta básica” mas, quando recorremos
ao conceito de identificação, observamos que a experiência depende de um
primeiro laço social e isso pode levar-nos a concluir que o conceito de
identificação explica melhor a formação do sintoma do que a carência de amor.
Isso quer dizer que tomar emprestado um traço do Outro, explica melhor o
sentido do sintoma do que a falta de amor do outro.
Devemos colocar um dos pilares da psicanálise na impossibilidade da
relação sexual. O matema d'asexo(ualidade) quer anunciar isso, que alguma coisa
no trabalho do inconsciente não pode escrever-se, o que quer dizer que é
próprio da estrutura de linguagem, da estrutura de significante que, em nenhum
lugar, sob nenhum signo o sexo se escreva a partir de uma relação.
O enunciado "não há relação sexual" se aplica aos dois gozos.
Por isso dizemos que o fundamento da psicanálise não é a bisexo(ualidade), mas
a asexo(ualidade. Por isso dizemos que a psicanálise
não tem nada a ver com sexo, mas com asexo.
Prelúdio 12
– De que se trata no amor?
Sonia Campos Magalhães
No seu seminário Mais, ainda, Lacan[32]
nos diz que foi preciso a psicanálise, foi preciso Freud, para que novos
caminhos fossem trilhados em relação ao amor.
Trazendo o dito “Nós dois somos um só”, Lacan
ironiza ao dizer que todo mundo sabe, com certeza, que jamais aconteceu, entre
dois, que eles fossem um só, mas que é daí que parte a ideia do amor[33].
Para Lacan, foi preciso Freud para dizer que o
amor, se é verdade que tem relação com o Um, não faz ninguém sair de si mesmo.
Ao introduzir a função do amor narcísico, Freud se perguntava como poderia
haver amor por outro, já que esse Um, de que “[...] todo mundo tem a boca
cheia”, como enfatiza Lacan, é da natureza da miragem do Um que a gente
acredita ser[34].
Lacan propõe partir do “Há Um” e afirma que, no
discurso de Freud, isto se anuncia por Eros que, de grão em grão, supõe-se
tender a fazer um de uma multidão. Para fazer face ao Eros universal, Freud faz
surgir outro fator na forma de Tânatos, a redução ao pó[35].
No entanto, se esta for uma metáfora permitida a
Freud, diz Lacan que, sendo o inconsciente estruturado como uma linguagem, é no
nível da língua que teremos de interrogar esse Um ao qual a série dos séculos
concedeu ressonância infinita[36].
Esse “Há Um” é para ser tomado com o viés de que
“Há Um” sozinho. É aí que se apreende o nervo do que se pode chamar pelo nome
com que a coisa ressoa por todo o curso dos séculos, isto é, o amor.
É o que a análise nos ensina. Na análise não se
lida senão com isso. Não é por outra via, senão a do amor, que ela opera. É uma
via singular. A experiência analítica permitiu a Lacan destacar o que ele
acreditou suportar a transferência, no que ela não se distingue do amor, e cuja
fórmula se propõe: sujeito suposto saber.
No começo da psicanálise está a transferência. É o
que nos diz Lacan, acrescentando – graças ao psicanalisando[37].
No começo da experiência analítica está o amor.
Mas, que amor é este? De que se trata no amor, a partir do que a psicanálise
nos ensina?
Creio poder dizer que se trata do amor que a
psicanálise propõe: amor renovado pelo discurso analítico. Amor articulado ao
saber, ao saber que a psicanálise faz surgir quando Freud traz o inconsciente.
Amor ao saber, susceptível de dar lugar ao Desejo de saber.
Prelúdio 13 - No sexo e no amor, o que se
a-posta?
Vera Pollo
Mas, estaremos nós à altura do que
parecemos, pela subversão freudiana, ser convocados a carregar – o
ser-para-o-sexo? Não parecemos muito valentes para manter essa posição. Nem
tampouco muito alegres. (Lacan, 1968/2003, p.363)
Será que ainda “não pegamos a coisa”, como afirmou Lacan[38] em
1968? Como entender sua afirmação? O tema do nosso próximo encontro nacional,
“Amor e sexos”, reúne duas apostas presentes em cada análise, como em nossa
vida cotidiana. Quem não os deseja, o amor e o sexo?
Lembremos que Freud[39] não
aprovou o mandamento cristão “ama o teu próximo como a ti mesmo”, não apenas
por enunciar o impossível, mas sobretudo por banalizar o amor. E Lacan deduziu
da invenção freudiana de um novo laço social a aposta em um amor liberado de
suas amarras narcísicas. Amor-signo. Quiçá, mais digno. Pode o amor ser o signo
de uma época? Se o for, que modo estaria ele adquirindo em nossa época?
Vivemos hoje a era das "fertilizações assistidas", que não
raro dispensam o ato sexual. Recebemos em nossos consultórios sujeitos que se
classificam abertamente como "homossexuais", "lésbicas"
ou "bissexuais". Como os demais, eles vêm primordialmente em
busca de solucionar os conflitos do amor e nos fazem lembrar a pergunta
sugerida por Lacan[40] em
1972: Será que já existe uma "norma homo"? Afinal, não há nenhum
rastro da palavra ‘norma’ no discurso antigo, fomos nós que a inventamos.
Não há uma relação simples, muito menos unívoca, entre o sexo e o amor.
Se este pode suprir a falta do primeiro, é apenas na medida em que o amor é
libido diferida. Libido atenuada, sublinhou Freud[41],
mencionando a idealização do objeto amado, mas...não sem a depreciação do
objeto sexualmente desejado. Lacan, por sua vez, destacou desde cedo a
cumplicidade êxtima do significante e do amor, pois “há pessoas que nunca se
haveriam apaixonado, se nunca tivessem ouvido falar de amor”[42].
Chegou a dizer que a transferência é o milagre por meio do qual se é transposto
da posição de amado à de amante[43].
É que o amor demanda amor, o amor demanda...mais, ainda.
Em contrapartida, o inconsciente não inscreve a diferença sexual.
Nem o sexo, nem a morte, tão somente o falo, símbolo da turgescência vital. Vem
daí o fato de que os homens amam como fetichistas. As mulheres, porém, qual
loucas erotômanas, é tudo ou nada para elas! Ouçamos o que formula nossa
Rita Lee:
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos
Paro por aqui, embora a letra da música comporte mais estrofes,
inclusive em termos bem próximos aos de Freud, enunciando que o amor é cristão,
enquanto o sexo é pagão. E volto à questão inicial sobre o que se aposta. No
sexo, com certeza, um álibi fálico. E no amor? Um mais-além do narcisnismo[44]?
“E se o amor, tornando-se um jogo de que se sabe as regras, passasse a ser um
elo do nó borromeano, se ele funcionasse unindo o gozo do Real ao real do gozo,
será que não valeria a pena jogar
o jogo?!”[45]
Prelúdio 14 - O amor como a-mais
Gracia Azevedo
“Amo-te não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo”.
Gabriel García Márquez.
A diversidade sexual reflete a
diversidade da pulsão que, embora esteja sempre à deriva, corre atrás do objeto
causa de desejo, que é próprio de cada um. A fantasia mostra que a verdadeira
bissexualidade de todo ser sexuado se encontra nas posições de sujeito e de
objeto, e não de homem e de mulher. Por outro lado, homens e mulheres,
independente do sexo, podem experimentar o gozo fálico e o Outro gozo.
Os
homens, as mulheres e as crianças, não são mais do que significantes, nos diz
Lacan.
O
inconsciente estruturado como uma linguagem coloca os seres falantes em uma
posição de desconforto, de falta, onde a linguagem funciona como suplência, por
ausência de representação para o ser Um. A relação sexual, por estrutura, não
existe, pois a linguagem que a origina, é insuficiente para articular o ser do
sujeito. A divisão produz o alinhamento homem e mulher, sob as bandeiras da
função fálica ou da função não-toda fálica, independente da anatomia. O sujeito
dividido, capenga, vai atrás do objeto causa de seu desejo e encontra apenas um
signo capaz de provocar o desejo. O gozo sexual, fálico, não se encontra com o
gozo do Outro que é do corpo. O gozo busca a satisfação baseada na linguagem,
que não tem a representação buscada. O aparelho de gozo é a linguagem. Só que
se há linguagem, há furo, falta de gozo, falta do Um. O recalque inaugura a
linguagem. Então os processos primários de gozo já cederam para os
significantes. É o blábláblá que surge para suprir essa perda de gozo.
Os
seres falantes diferenciam-se em homem e mulher pelos caracteres físicos e
sexuais, mas, esta organicidade é secundária.
O
sujeito é efeito de linguagem. Causado pela divisão, seu discurso se alinha do
lado homem ou do lado mulher. Não há relação sexual pela própria natureza
“furada” da linguagem.
A
sexualidade é um fato de linguagem, constituída a partir de um significante que
representa o recalcado. Por isto mesmo não há um significante que represente
essa falta e que faça existir a relação sexual. O que define o homem é o fato
do ser falante se alinhar sob a bandeira da castração, da função fálica. As
mulheres se alinham sob a bandeira do não-toda situada na função fálica.
Partindo da referência fálica, A mulher não existe, não é
universal. Há um resto não inscrito na função fálica. Ela é uma a uma, há um
gozo suplementar do lado da mulher. Essa forma de gozo, fálico ou não-todo
divide os seres falantes em machos e fêmeas e não há encontro, a não ser pelo
logro do amor.
O
objeto de desejo é metonímico, como o é, o significante. A linguagem em seu
efeito de significado, não é jamais senão lateral ao referente. O que vem em
suplência à relação sexual é precisamente o amor, nos diz Lacan.
No
desejo temos um objeto em questão, e não um sujeito. É aí que reside o
mandamento do deus do amor. O de fazer do objeto algo que, primeiramente, seja
um objeto, e, em segundo lugar, um objeto diante do qual , desfalecemos,
vacilamos, desaparecemos como sujeito. Do lado do objeto, temos uma
supervalorização. Aí ele tem a função de salvar a nossa dignidade de sujeito,
isto é, algo que pode nos distinguir de um sujeito submisso ao deslizamento
infinito do significante. Ele faz de nós algo de um sujeito único, de
inapreciável, de insubstituível. O verdadeiro ponto onde podemos designar a
dignidade do sujeito.
O
amor faz suplência. Suplementa (não completa) esse gozo na mulher. Para o homem
não há nenhuma chance de que ele goze do corpo da mulher. Ele goza do objeto da
sua fantasia, causa do seu desejo, seu sintoma. Aí temos o ato de amor,
perversão polimorfa do macho, gozando do objeto a.
A
verdade do desejo é sozinha, uma ofensa à lei. O que está em jogo na relação
com o falo, é o ser do sujeito. Ele o é, diz Lacan, por “ser o significante sob
o qual a linguagem o designa”.
Assim
o amor se serve de um a estrelado, marcado, um a-mais. Que também
não serve, mas, vai seguindo a trilha daquilo que se parece mais e mais com
nossa angústia velada, desvelada e revelada. Com o que nos leva adiante, Eros,
lado a lado com Tânatos.
Referências bibliográficas
Lacan, Jacques – O seminário, livro 6 – O desejo e sua interpretação.
Publicação não comercial.
Lacan, Jacques – O seminário, livro 8 – A transferência. Jorge Zahar
Ed., 1992.
Lacan, Jacques – O seminário, livro 20 – Mais, ainda. Jorge Zahar Ed.,
1985.
Prelúdio 15 – Amor só é bom se doer?
Lia Silveira[1]
Freud dixit : perguntem aos poetas! E em matéria de amor, a língua portuguesa deu ao Brasil um de seus maiores expoentes: Vinícius de Moraes. O “poetinha” não só compôs e cantou o amor, como o perseguiu incansavelmente. Vinícius, o homem, chegou a casar-se nove vezes, correndo atrás do “amor total” e caindo fora de cada relação tão logo a “chama eterna” se apagava. (Mas deixemos de lado a biografia, já que se não se trata de bancar o psicólogo.)
Batida de samba, os versos anunciam:
“Amigo sinhô, Saravá!
Xangô me mandou lhe dizer:
Se é canto de Ossanha, não vá!
Que muito vai se arrepender.
Pergunte pr'o seu Orixá,
O amor só é bom se doer”
“Amor só é bom se doer”, não é novidade. Rimar amor e dor já é lugar comum. Na verdade, o amor romântico nasce assim: um impedimento, um balcão, dois amantes e uma trova. Cartas de amor, é o que a dor da distância produz. Na poesia romântica, na musica romântica, só se fala das dores de amor, dos desencontros do amor, das impossibilidades do amor.
Nas linhas de “Canto de Ossanha” Vinícius (com a ajuda de Baden Powell que mais tarde entrou pra igreja evangélica e renegou os afro-sambas) fala-nos de um dos perigos a que está exposto o amor: o das ameaças de canto sedutor, traidor. Um canto que traz consigo uma promessa, mas que já vem acompanhada de um alerta de arrependimento: “Se é canto de Ossanha, não vá! Que muito vai se arrepender.”
Ossanha é um dos ícones da mitologia afro-brasileira. Conta a lenda que um rei decidiu casar a sua filha mais velha. Mas só concederia sua mão àquele que adivinhasse o nome de suas três filhas. Ossanha aceitou o desafio e subindo em uma árvore, disfarçou-se de pássaro e pôs-se a cantar um canto irresistível, atraindo a atenção das princesas. Disfarçado de pássaro, brincou com elas a tarde toda, ganhou sua confiança e descobriu seus nomes. Assim, conseguiu casar-se com a pretendida.
Embora não nos diga o porquê do perigo, nos versos vinicianos é o próprio Xangô (autoridade entre os orixás) quem avisa do destino trágico reservado à quem se deixar levar por esse canto. A nos fiarmos na estrutura dos mitos, sabemos, com Ulisses, onde leva essa sedução da voz: as sereias, com seu canto mavioso, encantam os marinheiros e os arrastam para a morte.
A morte, preço a ser pago pela reprodução sexuada entre os seres. A morte, ponto final para todo desejo não advertido, desejo que se deixa seduzir pela crença de que é possível encontrar o objeto que o satisfaça.
Mas o que o mito (re)vela é a divisão estrutural de todo ser falante, que o destina ao paradoxo de, por um lado, ser ali onde não pensa, e por outro, pensar onde não é. Como diz a canção:
O homem que diz “dou”,
Não dá!
Porque quem dá mesmo.
Não diz!
O homem que diz “vou”
Não vai!
Porque quando foi,
Já não quis!
O homem que diz “sou”
Não é!
Porque quem é mesmo “é”
Não sou!
O homem que diz “tou”,
Não tá!
Porque ninguém tá quando quer.
É o desejo, que sobrepuja o Eu que diz “sou”, porque ninguém tá quando “quer”. Não existe afânise do desejo, é antes o sujeito que sucumbe frente à fulguração do desejo. O amor-canto-de-ossanha enganador, engana a dor dessa divisão, fazendo acreditar que é possível integrar essas metades num “amor total”. Amor narcísico, diz Freud, pois não está interessado na alteridade, na diferença, mas apenas em recuperar aquilo que julga parte de si.
No canto de Ossanha, o desejo surge fazendo questão, desacomodando. O sujeito, dividido entre o imperativo e sua recusa, vacila num ritornelo:
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Até que o enunciador se afirma por um “Não Vou!” decidido, e justifica:
Não! Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...
Ato, decisão, escolha subjetiva...disso depende um novo amor. Será que a análise anuncia a manhã de um novo amor? Será possível inventar uma rima outra, que não amor e dor?
A análise começa por essa via do canto-promessa de amor, cartas (lettres) de amor se endereçam e desfilam. A diferença só se faz possível porque, nessa repetição, um desejo novo se faz presente. Desejo do analista que, ao fazer semblante de canto, o reduz à pura voz que o sustenta. Voz, marca de gozo, letra (lettre) esvaziada do sentido que sustentava a mandinga do Outro traidor.
A partir dessa experiência do vazio, de tomá-lo em sua radicalidade, pode ser que surja a “manhã de um novo amor”. Novo, não na acepção de “recente”, “recém-chegado” (nesse sentido é bem possível desfilar uma lista de “novos” amores sem nunca sair do mesmo), mas novo no sentido de “inédito”, daquilo que permite que algo se inscreva como diferença.
Em novembro estaremos em Campo Grande para falar de amor, convidamos a todos para que possamos dizer um pouco mais sobre isso.
[1] Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano; Fórum de Fortaleza
Freud dixit : perguntem aos poetas! E em matéria de amor, a língua portuguesa deu ao Brasil um de seus maiores expoentes: Vinícius de Moraes. O “poetinha” não só compôs e cantou o amor, como o perseguiu incansavelmente. Vinícius, o homem, chegou a casar-se nove vezes, correndo atrás do “amor total” e caindo fora de cada relação tão logo a “chama eterna” se apagava. (Mas deixemos de lado a biografia, já que se não se trata de bancar o psicólogo.)
Batida de samba, os versos anunciam:
“Amigo sinhô, Saravá!
Xangô me mandou lhe dizer:
Se é canto de Ossanha, não vá!
Que muito vai se arrepender.
Pergunte pr'o seu Orixá,
O amor só é bom se doer”
“Amor só é bom se doer”, não é novidade. Rimar amor e dor já é lugar comum. Na verdade, o amor romântico nasce assim: um impedimento, um balcão, dois amantes e uma trova. Cartas de amor, é o que a dor da distância produz. Na poesia romântica, na musica romântica, só se fala das dores de amor, dos desencontros do amor, das impossibilidades do amor.
Nas linhas de “Canto de Ossanha” Vinícius (com a ajuda de Baden Powell que mais tarde entrou pra igreja evangélica e renegou os afro-sambas) fala-nos de um dos perigos a que está exposto o amor: o das ameaças de canto sedutor, traidor. Um canto que traz consigo uma promessa, mas que já vem acompanhada de um alerta de arrependimento: “Se é canto de Ossanha, não vá! Que muito vai se arrepender.”
Ossanha é um dos ícones da mitologia afro-brasileira. Conta a lenda que um rei decidiu casar a sua filha mais velha. Mas só concederia sua mão àquele que adivinhasse o nome de suas três filhas. Ossanha aceitou o desafio e subindo em uma árvore, disfarçou-se de pássaro e pôs-se a cantar um canto irresistível, atraindo a atenção das princesas. Disfarçado de pássaro, brincou com elas a tarde toda, ganhou sua confiança e descobriu seus nomes. Assim, conseguiu casar-se com a pretendida.
Embora não nos diga o porquê do perigo, nos versos vinicianos é o próprio Xangô (autoridade entre os orixás) quem avisa do destino trágico reservado à quem se deixar levar por esse canto. A nos fiarmos na estrutura dos mitos, sabemos, com Ulisses, onde leva essa sedução da voz: as sereias, com seu canto mavioso, encantam os marinheiros e os arrastam para a morte.
A morte, preço a ser pago pela reprodução sexuada entre os seres. A morte, ponto final para todo desejo não advertido, desejo que se deixa seduzir pela crença de que é possível encontrar o objeto que o satisfaça.
Mas o que o mito (re)vela é a divisão estrutural de todo ser falante, que o destina ao paradoxo de, por um lado, ser ali onde não pensa, e por outro, pensar onde não é. Como diz a canção:
O homem que diz “dou”,
Não dá!
Porque quem dá mesmo.
Não diz!
O homem que diz “vou”
Não vai!
Porque quando foi,
Já não quis!
O homem que diz “sou”
Não é!
Porque quem é mesmo “é”
Não sou!
O homem que diz “tou”,
Não tá!
Porque ninguém tá quando quer.
É o desejo, que sobrepuja o Eu que diz “sou”, porque ninguém tá quando “quer”. Não existe afânise do desejo, é antes o sujeito que sucumbe frente à fulguração do desejo. O amor-canto-de-ossanha enganador, engana a dor dessa divisão, fazendo acreditar que é possível integrar essas metades num “amor total”. Amor narcísico, diz Freud, pois não está interessado na alteridade, na diferença, mas apenas em recuperar aquilo que julga parte de si.
No canto de Ossanha, o desejo surge fazendo questão, desacomodando. O sujeito, dividido entre o imperativo e sua recusa, vacila num ritornelo:
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Até que o enunciador se afirma por um “Não Vou!” decidido, e justifica:
Não! Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...
Ato, decisão, escolha subjetiva...disso depende um novo amor. Será que a análise anuncia a manhã de um novo amor? Será possível inventar uma rima outra, que não amor e dor?
A análise começa por essa via do canto-promessa de amor, cartas (lettres) de amor se endereçam e desfilam. A diferença só se faz possível porque, nessa repetição, um desejo novo se faz presente. Desejo do analista que, ao fazer semblante de canto, o reduz à pura voz que o sustenta. Voz, marca de gozo, letra (lettre) esvaziada do sentido que sustentava a mandinga do Outro traidor.
A partir dessa experiência do vazio, de tomá-lo em sua radicalidade, pode ser que surja a “manhã de um novo amor”. Novo, não na acepção de “recente”, “recém-chegado” (nesse sentido é bem possível desfilar uma lista de “novos” amores sem nunca sair do mesmo), mas novo no sentido de “inédito”, daquilo que permite que algo se inscreva como diferença.
Em novembro estaremos em Campo Grande para falar de amor, convidamos a todos para que possamos dizer um pouco mais sobre isso.
[1] Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano; Fórum de Fortaleza
Prelúdio
16 – Amor é prosa, sexo é poesia
Maria
Lúcia Araújo
O título é proposital para destacar a frase de Jabor, mostrando como a
literatura pode generosamente contribuir com a psicanálise. Mas antes de ler o
que o poeta escreveu ouçamos Lacan falar sobre o amor: "Mas o que
articulei precisamente no ano passado foi que quando a gente ama não se trata
de sexo". Para Lacan o amor visa o ser. O amor e a palavra fazem suplência
a "não relação sexual". O amor [...] faz signo, e ele é sempre
recíproco. É mesmo por isso que se inventou o inconsciente - para se perceber
que, o desejo do homem, é o desejo do Outro [...] o amor, será que é fazer um
só? Eros, será ele tensão para o UM? [...] o discurso analítico só se
sustenta pelo enunciado de que não há, de que é impossível colocar-se a relação
sexual".
Arnaldo Jabor, não é psicanalista, é escritor e diz que tem fome de
arte. Em seu livro: Amor é prosa, sexo é poesia afirma, poeticamente, que
"O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a
lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não
depende de nosso desejo, nosso desejo é tomado por ele. No amor perdemos a
cabeça, deliberadamente. No sexo o pensamento atrapalha só as fantasias ajudam.
O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um
desejo de acabar com a impossibilidade. A sexualidade é finita [...]. Já o
amor, não...O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da
entrega. Ser impossível é sua face de beleza. Calma, pessoal, claro que o amor
existe [...] o amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver". Finalmente
ele conclui que: "Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da
morte".
Bibliografia:
JABOR A.
Livro: Amor é prosa, sexo é poesia. Rio de janeiro. Editora Objetiva
Latda.2004,p.35/39.
LACAN, J.
O seminário, livro 20, Mais,ainda. (1972/1973). Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, p.12/13. 1985.
XV ENCONTRO NACIONAL DA ESCOLA DE PSICANÁLISE
DOS FÓRUNS DO CAMPO LACANIANO BRASIL “Amor e
sexos”
13
a 16 de novembro de 2014
Campo Grande – Mato Grosso do Sul
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Convidado
internacional
LUIS
IZCOVICH
Local do evento: Grand
Park Hotel, Av. Afonso
Pena, n. 5282. Campo Grande/MS.
Valor das
inscrições:
Profissionais e
membros EPFCL- Brasil
Até 31/05/14: R$
260,00
Até 30/08/14: R$
280,00
A partir de
30/08/14: R$ 320,00
No local: R$
360,00
Estudantes de
graduação e
Funcionários rede
pública*
Até 31/05/2014:
R$ 130,00
Até 30/08/14: R$
140,00
A partir de
30/08/14: R$ 160,00
No local: R$
180,00
*Mediante comprovação
Informações e inscrições:
Nacional:
Flávia Coutinho
Local:
Com qualquer membro do FCL/MS
Blog: www.fclms.blogspot.com.br
|
Membros
do Fórum do Campo Lacaniano/MS
BRUNETTO Andréa Carla Deuner
Psicóloga, Mestre em Educação, Membro da Escola, AME, Membro do FCL/MS
Rua Alagoas, 196, Centro Empresarial Jardim dos Estados, Campo Grande/MS Brasil
Tel (55) 67 3326 9617 (55) 67 8114 0666 CEP 79020 120 Email brunetto@terra.com.br
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COSTA
Juliana Cristina Lopes da
Psicóloga, Pós Graduação em Psicanálise, Especialização em Psic. Infantil
Membro da Escola AP, Membro do FCL/MS
Rua Jeriba, 325, sala 19, Work Center - Chácara Cachoeira - Campo Grande -MS - Brasil
CEP 79040-120 Tel (55)67 9988 2810 Email julianaclcosta@yahoo.com.br
KOVALSKI Marilene
Psicóloga, Sociopsicomotricista Ramain-Thiers, Membro do FCL/MS
Rua João Tessitore, 378 - Bairro Miguel Couto - Campo Grande/MS Brasil CEP 79040-250
Tel (55) 67 8111-4446 Email marilene.kovalski@yahoo.com.br
MACHADO Isloany Dias
Psicóloga, Mestre em Psicologia, Especialista em Direitos Humanos.
Membro da Escola AP, Membro do FCL/MS
Av. Fernando Corrêa da Costa, 1233, Centro, Campo grande/MS Brasil CEP 79002-820
Email Isloanymachado@gmail.com Tel (55) 67 9995 7837 e (55) 67 8185 1910
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Rua Jeriba, 325, sala 19, Work Center - Chácara Cachoeira - Campo Grande -MS - Brasil
CEP 79040-120 Tel (55)67 9988 2810 Email julianaclcosta@yahoo.com.br
KOVALSKI Marilene
Psicóloga, Sociopsicomotricista Ramain-Thiers, Membro do FCL/MS
Rua João Tessitore, 378 - Bairro Miguel Couto - Campo Grande/MS Brasil CEP 79040-250
Tel (55) 67 8111-4446 Email marilene.kovalski@yahoo.com.br
MACHADO Isloany Dias
Psicóloga, Mestre em Psicologia, Especialista em Direitos Humanos.
Membro da Escola AP, Membro do FCL/MS
Av. Fernando Corrêa da Costa, 1233, Centro, Campo grande/MS Brasil CEP 79002-820
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MARIANO
Luciana
Psicóloga, Membro do FCL/MS
Rua Oliveira Marques, 1430, Dourados/MS. Brasil. CEP. 79805-020
Tel (55) 67 9971 8113. (55) 67 3422 6461. Email luciana@skoldourados.com.br
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MARTINEZ Marisa de Costa
Psicóloga, Mestre em psicologia, Especialista em Psicoterapia de Orientação Psicanalitica,
Membro do FCL/MS - Brasil
Rua Jeriba, 750, Chácara Cachoeira. Campo Grande/MS CEP 79040-120
Tel. (55) 67 3324 9214 Email. marisadecosta@gmail.com
SOUZA Pricila Pesqueira de
Psicóloga, Membro do FCL/MS
Rua Ponta Porã, 2135, Dourados/MS Brasil. CEP 79803-030 Tel (55)67 8126 8485
Email Pricila_pesqueira@yahoo.com.br
SOUZA Francina Evaristo de
Psicóloga, Membro do FCL/MS Pôs graduada em Saude Mental/ Unicamp
Rua João Rosa Goês, 1445, Vila Progresso, Dourados/MS CEP 79825-070
Email francinasousa@yahoo.com.br Tel (55) 67 8412 8521
WUNSCH Claudia
Psicóloga, Especialista em Psicanálise Clínica em Freud e Lacan/Unipar-Cascavel -PR
Membro do FCL/MS
Rua Ponta Pora, 2135, Vila Progresso, Dourados/MS. Brasil CEP 79825-000
Tel (55) 67 8136 5905. Email. clauwu@gmail.com
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SOUZA Francina Evaristo de
Psicóloga, Membro do FCL/MS Pôs graduada em Saude Mental/ Unicamp
Rua João Rosa Goês, 1445, Vila Progresso, Dourados/MS CEP 79825-070
Email francinasousa@yahoo.com.br Tel (55) 67 8412 8521
WUNSCH Claudia
Psicóloga, Especialista em Psicanálise Clínica em Freud e Lacan/Unipar-Cascavel -PR
Membro do FCL/MS
Rua Ponta Pora, 2135, Vila Progresso, Dourados/MS. Brasil CEP 79825-000
Tel (55) 67 8136 5905. Email. clauwu@gmail.com
[1]
LACAN, J. O Seminário, livro 8: A Transferência. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 46
[2] LACAN, J. Idem, p. 47.
[3]
Refiro-me aqui ao Milan Kundera que “fala
português”, uma vez que tomo como significante de minha análise a tradução de
Tereza B. Carvalho da Fonseca da obra A Insustentável leveza do ser, e não o
texto em sua língua original.
[4] PLATÃO. O Banquete. (tradução, introdução e
notas J. Cavalcante de Souza). Rio de Janeiro: Difel, 2006.
[5] FREUD, S.
Mal-Estar na Civilização. In: Edição Standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago,
1930/1996, p. 121.
[6] LACAN, J. O
seminário: Livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1957-1958/1999, p. 376.
[7] FREUD, S. A
Significação Antitética das Palavras Primitivas. In: Edição Standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XI. Rio
de Janeiro: Imago, 1910a/1996, p. 234).
[8] ANDRÉ, S. O
que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 247.
[9] LACAN, J. O
seminário, livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1972-1973/2008, p. 51.
[10] Poeta regional
e do mundo.
[11] Pesquisei a palavra “enodar” no
google voice, em que você diz a palavra e ele te dá o significado. Eu dizia:
Enodar. E o google entendia: “anotar”, “e nos dar”, “endnote dar”. O google não
entende nada de amor, mas quando finalmente digitei a palavra ele me deu o
seguinte significado: “ligar com um nó: enodar um ramo de flores”.
[13] Referência ao poema do escritor
brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
[18] LACAN, J. O Seminário
livro 10 – A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
[19] ABREU LIMA, A.
Psicologia Jurídica: lugar de palavras ausentes. Aracaju: Evocati, 2007
[20]Lacan J., Le Séminaire, Livre XX, Encore, Paris,
Seuil, 1975, p.79. O Seminário, livro 20 : mais, ainda. Versão brasileira de
M.D.Magno, 2ª ed. revista. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1985, p. 114.
[26] No texto Introdução à edição alemã de um primeiro
volume dos Escritos (in: Outros Escritos, Rio de janeiro:Jorge Zahar Ed., 2003)
Lacan diz: “É claro que entre os seres que sexuados são (embora o sexo só se
inscreva pela não relação) existem encontros.” E completa: “Aliás só existe
isso: felicidade do acaso!”
[27] LACAN, J. (1960-1961) O Seminário. Livro
8: a transferência. Tradução de Dulce Estrada. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2010.
[28] ______. Estou falando com
as paredes: conversas na Capela de Sainte-Anne. Tradução de Vera Ribeiro.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2011.
[29] ______. (1953) Função e campo da
fala e da linguagem. In: ______. Escritos. Tradução de Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 238-324.
[30] ______. Estou falando com as paredes:
conversas na Capela de Sainte-Anne. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2011, p.102.
[31] ______. (1957) O seminário sobre
“A carta roubada”. In:______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 13-66.
[32] LACAN, Jacques. O seminário, livro 20:
mais, ainda. Versão brasileira de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1982.
[37] LACAN, J. Proposição de 09 de outubro de 1967 sobre
o psicanalista da Escola. In: _____. Novos escritos.
Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2003, p. 252.
[38] (1968) Alocução sobre as psicoses da
criança. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2003
[39] (1930 [1929])O mal-estar na civilização. In:
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1969, v. XXI
[40] (1971-1972) Le
savoir du psychanaliste. Entretiens de Sainte-Anne. Seminário de 3 de fevereiro de 1972.
Inédito.
[41] (1912) Sobre a tendência universal à
depreciação na esfera do amor(Contribuições à psicologia do amor II).
In: Obras Completas, v. XI.
[42] La Rochefoucauld apud Lacan. Função e campo
da fala e da linguagem. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1998, p.265
[43] (1960-1961) O Seminário, livro 8: a
transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 59
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